"Jorge Nuno e o major controlam tudo e até a Polícia Judiciária do Porto" Decidiu publicar uma autobiografia para se defender da má publicidade que tem sido feito da sua pessoa. Num relato aos bastidores do futebol, acusa o presidente do FC Porto de comprar árbitros e mover influências. Que papel está assumir a neste momento com a publicação deste livro?
- Este livro é a vontade de encerrar um capítulo da minha vida. Se a separação tivesse acontecido de uma forma normal e civilizada não haveria livro.
Vingança, arrependimento?
- Perante a tentativa persistente de Jorge Nuno de me achincalhar na praça pública decidi escrever um livro que me desse o direito de me defender.
Foi pressionada para que o livro não fosse publicado?
- Recebi algumas pressões e ameaças, mas o que interessa é que foi publicado.
Não receia as consequências que poderão advir da publicação?
- Assumo os riscos de tudo o que contei. Estou preparada para pagar os erros que cometi durante este tempo. Tudo o que escrevi aconteceu e também admito que por uma questão de precaução e segurança pessoal, não contei todas as histórias.
Falou de promiscuidade, de mundo oculto no futebol. A que se referia?
- Às inúmeras histórias de bastidores, como as que envolvem os árbitros. Relatei algumas situações de árbitros que estiveram em minha casa a conviver com o Jorge Nuno. Acho que não é normal este tipo de confraternização.
Eram árbitros indicados para os jogos do FC Porto?
- Também. Isso também acontecia em vésperas dos jogos? Sim, existiramalguns convívios.
E nesses convívios eram pedidos favores?
- Exactamente.
Favores desportivos?
- Eles eram pagos para se portarem bem.
De que tipo de pagamentos fala?
- Há muitas formas de se pagar favores. Não se pode limitar o pagamento a dar dinheiro.
Está a falar de corrupção na arbitragem...
- Pelo que vi, sim. Alguns árbitros vendem-se.
Relata no livro um telefonema de Pinto da Costa para Pinto de Sousa, (ex-presidente do Conselho de Arbitragem) queixando-se de uma arbitragem que não estava a correr bem. Era frequente essa situação?
- Aconteceu algumas vezes.
E qual era a resposta?
- Pinto de Sousa tentava tranquilizá-lo e depois acabavam por se encontrar para falar do assunto. Assistiu a alguma sugestão de árbitro para algum jogo do FC Porto?
Sim, por exemplo o Benfica-FC Porto (2004), naquele jogo em que assisti à partida no meio dos Super-Dragões e exibi um cartaz para o presidente do Benfica, uma montagem de Jorge Nuno, que me usou.
Está a dizer que esse arbitro, Olegário Benquerença, foi escolhido por Pinto da Costa?
- ... Recordo-me bem que o resultado desse jogo foi positivo para o FC Porto [vitória por 1-0].
A quem eram dirigidos os pedidos?
- A quem mandava nos árbitros e quem tinha o poder na Liga, dirigentes importantes que estão indiciados no processo Apito Dourado.
Que tipo de relacionamento tem Pinto da Costa com Valentim Loureiro.
- Há amigos que não se podem dar ao luxo de se zangarem, amizades que têm de ser mantidas a todo custo. São amizades de conveniência. Não acredito que ele goste verdadeiramente de alguém.
Neste seis anos sentiu que Pinto da Costa tem influência no futebol português?
- Tem muita influência a todos os níveis. E não tenho receio de dizer que muitos dos jogos do FC Porto foram ganhos nos bastidores.
Quem são os mais influentes?
- O major e o Jorge Nuno controlam tudo a norte. O poder deles, nomeadamente do Jorge Nuno, vai muito além do futebol, abrange a comunicação social e vai até à Polícia Judiciária do Porto, como ficou provado no processo "Apito Dourado".
Se pudesse voltar atrás o que faria de diferente?
- O Jorge Nuno estava a par, desde o início, de tudo o que se ia passando no processo, e foi avisado um dia antes de a PJ ir a nossa casa. Foi Lourenço Pinto [advogado] que lhe disse. A informação chegou por intermédio do irmão de Reinaldo Teles, Joaquim Pinheiro, que tem um amigo na Polícia Judiciária do Porto. Essa informação deu-nos tempo para preparar a fuga.
Se pudesse voltar atrás o que faria de diferente?
- Não teria ajudado o Jorge Nuno na agressão a Ricardo Bexiga. Eu fu incumbida por ele de falar com algumas pessoas e fazer o serviço ("dar uma coça", ao então vereador). Na altura ele não podia confiar nas outras pessoas, Reinaldo Teles deixara de ser, por motivos pessoais, o seu braço direito e então utilizou-me. Fiz o trabalho sujo.
E porque aceitou?
- Não tinha alternativa. Tinha que o ajudar. Eu sempre me coloquei na linha da frente em tudo.
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