Sporting - Tem vindo a ser notado o seu silêncio em relação aos acontecimentos do futebol português e aos últimos jogos. No entanto, ocorrências de sábado em Alvalade parecem merecer algumas palavras. Qual é a sua opinião sobre o jogo?
António Dias da Cunha - Antes de entrar directamente na questão do jogo gostaria de deixar algumas considerações. A primeira tem a ver com os jornalistas que acompanham habitualmente o Sporting. A esses quero agradecer a distinção que me concederam, aproveitando a oportunidade para lhes pedir que compreendam o meu silêncio. Sem eles, os jornais desportivos que tão caro pagam a cronistas encartados não existiriam, sabendo nós como é difícil eles receberem o pão nosso de cada dia. Mais uma vez sublinho que sei distinguir perfeitamente aqueles que fazem o jornalismo desportivo no dia-a-dia daqueles que são pagos a peso de ouro para falarem na maior parte das vezes daquilo que se harmoniza com o seu ponto de vista pré-determinado: duplamente pré-determinado, ou pelas cores clubistas ou pela adesão ao status quo, isto é, o sistema e os dinheiros sujos .Ainda quanto à distinção que os jornalistas me concederam, desejo partilhá-la aqui com o Ricardo, um grande profissional.
Sporting - Em seu entender, sistema e dinheiros sujos não são a mesma coisa?
António Dias da Cunha - Não. Claramente não são e tenho tido a preocupação de separar essas vertentes, embora saiba que algum do dinheiro sujo acaba por chegar a árbitros corruptos. Mas o problema dos dinheiros sujos não está associado, no essencial, à arbitragem. O problema dos dinheiros sujos tem a ver com muito daquilo que se passa no futebol profissional e que faz com que o Estado e nós, cidadãos em geral, sejamos os mais prejudicados. O dinheiro sujo é a contabilidade criativa. Dinheiro sujo são as contas que não revelam quem detém os direitos desportivos sobre os jogadores. Dinheiro sujo é o que sai de um clube e não entra no outro em operações de transacção de jogadores. Sporting - E o sistema?
António Dias da Cunha - O sistema é o controlo da arbitragem. E o controlo da arbitragem faz-se através da classificação dos árbitros. É a boa ou má vontade do príncipe (o príncipe é quem os classifica) que decide sobre os acontecimentos na arbitragem. O Sporting tem propostas muito claras para resolver esse problema. São conhecidas, não vou repeti-las agora Mas não posso deixar de me interrogar como pode uma figura como o sr. Luís Guilherme, que de príncipe até nada tem, concentrar actos como o de nomear e classificar árbitros. Sporting - É conhecida a sua posição de que o sistema não está em condições de regenerar o futebol profissional, uma tarefa que será, por isso, da responsabilidade dos poderes políticos. Agora, não pode dissociar-se essa posição do facto de o País entrar em campanha eleitoral. Quer comentar esta situação?
António Dias da Cunha - Quero, e considero que é da máxma importância fazê-lo agora. O Sporting vai olhar muito atentamente para os programas eleitorais dos partidos políticos e não poderá deixar de tirar as suas conclusões em relação aos que passarem em silêncio sobre o futebol profissional ou aos que em relação a este sector específico de actividade insistirem no estafado argumento do associativismo.
Neste contexto do futebol profissional, o associativismo mais não é do que a defesa do satus quo. O Sporting vai estar muito atento a senhores ministros que costumam fazer a defesa desse associativismo e não vai admitir que possam voltar a ter responsabilidades nesta matéria.
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